1. SISTEMAS DE CONTROLE HOLÔNICO (HOLONIC CONTROL SYSTEM - HCS)
A característica principal de um HCS é o seu foco no
comportamento do sistema (Schoop et al., 2002, Colombo et al., 2001). Assim, HCS
é um sistema baseado em agentes inteligentes e plataformas de hardware multifuncional, para a
integração flexível de hardware e
funcionalidades de software que
implementam os holons.
Um levantamento de trabalhos publicados como Leitão et
al. (2005), Colombo et al. (2001), Schoop et al. (2002), Sousa et al. (2004),
Scheidt (2002) e as suas referências, mostra que existem várias contribuições
que tratam da aplicação do conceito de holons ou agentes na área de PSs (Productive Systems). Estes
trabalhos foram consideradas para a especificação da arquitetura e também
motivaram o procedimento de modelagem aqui proposto.
No entanto, esses estudos também confirmam que há ainda
um pequeno número de trabalhos que consideram a integração dos requisitos de HCS
e AFTCS (Active Fault Tolerant Control Systems), e poucas aplicações práticas das tecnologias de agente, mostrando que
há um longo caminho para uma ampla utilização desses HSs. Assim, pode-se destacar
que o desenvolvimento de aplicações também é considerado uma contribuição
relevante.
Analisando os trabalhos acima mencionados, verifica-se
que na maioria desses sistemas há troca direta de informações no formato de
solicitação-resposta entre holons. No entanto, um HS deveria conceitualmente
apresentar uma estrutura de comunicação que garante o alto nível de autonomia
dos holons e funções baseadas essencialmente no comportamento. Portanto, um
mecanismo de negociação é mais favorável do que um formato de comunicação de
solicitação-resposta entre holons.
Por outro lado, um sistema que considera a
reconfiguração requer recursos redundantes (Zhang & Jiang, 2008) e necessita
assim considerar a malha de transmissão de sinais de controle como uma parte do
sistema sendo controlado, pois, um problema nesta malha também pode afetar a
coerência das ações de comando (Scheidt, 2002).
Outro ponto é que não há nenhuma informação sobre o uso
de uma abordagem sistemática, como o PFS (Production Flow Schema) (Hasegawa et al, 1999), para estruturar e racionalizar os modelos
de desenvolvimento das arquiteturas propostas. Ou seja, padrões emergem sem um
ambiente que facilite o desenvolvimento de novos modelos.
2. ARQUITETURA DE CONTROLE DO ACTIVE HOLONIC CONTROL SYSTEMS (AHCS)
O AHCS é assim um sistema derivado de HCS para supervisão e controle dos
processos em PSs, associada a um procedimento para o projeto e que considera os
requisitos de AFTCS e utiliza a rede de Petri (Reisig, 1995) para a descrição da estrutura e
do comportamento do sistema.
Na
arquitetura de AHCS, ilustrada na Fig. 1a, cada holon pode ser um recurso
físico (CLP, robô, máquina CNC, etc.) ou um componente lógico (ordem de
produção/ serviço, tipo de produto/ serviço, etc.). Cada holon é responsável
por executar diferentes funcionalidades e seu comportamento individual
contribui com outros holons para representar o comportamento do sistema
inteiro.
O holon do
nível de planejamento, PrH – holon de produto (Product Holon), contém todo o conhecimento necessário para o
funcionamento do PS e para escolher a estratégia que atinge os objetivos
traçados. O holon do nível de ordenação, StH – holon de estratégias (Strategies Holon), contém todo o
conhecimento para gerenciar a execução de cada estratégia de produção que
resulta num produto. O holon do nível de supervisão, SuH – holon supervisor (supervisor holon), tem como principal
função a elaboração e execução de planos otimizados para os holons do nível de
controle local, OpH – holon operacional (Operational
Holon). O OpH representa os recursos físicos da planta que possuem algum
dispositivo de controle para o seu funcionamento e estabelece o comportamento
destes recursos de acordo com os objetivos e habilidades de cada um. O OpH
segue uma “agenda”, ou seja, a lista planejada de tarefas que o recurso tem de
executar.
2.1.
Mecanismos de tolerância
a falhas de AHCS
A seguir
apresentam-se os mecanismos para execução de tarefas com autonomia e agilidade,
que facilitam a interação e verificação do desempenho dos holons, e a alteração
da estrutura de controle hierárquico para heterárquico, de acordo com a
presença de falhas. Os mecanismos propostos permitem o chaveamento do controle
e a negociação entre os holons. O chaveamento de controle envolve dois modos de
operação: o “modo estacionário”
em que o sistema de controle é coordenado de forma hierárquica e os OpHs seguem
a coordenação do SuH, e o “modo
transiente”, em que os OpHs
assumem o controle (vide Fig.1a). Durante o “modo estacionário” os OpHs
interagem com os níveis hierárquicos superiores e durante o “modo transiente”,
bem como, durante a alocação de serviços ou comandos, os StHs interagem
diretamente com os OpHs. As holarquias são representadas por elipses e um holon
pode pertencer simultaneamente a várias holarquias (Fig. 1b).
Figura
1. (a) Arquitetura de controle e (b) holarquias de AHCS.
2.1.1.
Negociação entre holons
O mecanismo de negociação entre holons é baseado em regras que
permitem negociação entre holons baseada em créditos “recompensas” e débitos “penalidades”,
dependendo se uma ordem é executada com sucesso ou não. Quando um StH está
encarregado de executar uma determinada estratégia, ele recebe as seguintes
informações do PrH: a estratégia escolhida, uma medida quantitativa chamada “fundo
do serviço” (π), o tempo programado, um valor de penalidade pelo atraso (φ), e
um valor de recompensa (ε) por finalizar com sucesso.
O StH deve
gerenciar a negociação com os OpHs para atingir o objetivo sem ultrapassar o
valor limite previsto para o fundo do serviço. Por exemplo, durante alocação de
novas ordens, há interação entre StHs e OpHs. Após esta interação o StH aceita
transferir (pagar) uma recompensa ε ao OpH pela conclusão da ordem e receber
uma penalidade φ se a ordem não for concluída no tempo devido. O desempenho dos
holons é avaliado pelo resultado obtido dos valores obtidos de recompensas
menos penalidades. A Tab. 1 sumariza a
evolução desse mecanismo.
2.1.2.
Estimação do tempo de
recuperação
Tabela
1. Mecanismo de negociação baseado em créditos e débitos entre holons.
Fase
|
holon de
estratégia (StH)
|
holon
operacional (OpH)
|
Alocação de uma ordem
|
contrata a execução da ordem por ε e a penalidade por
φ.
|
contrata a execução da ordem por ε e a penalidade por
φ.
|
Finaliza uma operação com sucesso.
|
paga o valor ε ao HO, i.e., π←π–ε
|
aumenta o total dos créditos por ε, i.e., µ←µ+ε
|
Finaliza uma operação com atraso.
|
paga o valor ε e recebe o valor φ do HO, i.e.,
π←π–ε+φ
|
diminui o total de créditos por φ e aumenta por ε,
i.e., µ←µ+ε-φ
|
Operação cancelada (atraso, defeito, etc.)
|
recebe o valor φ do HO, i.e., π←π+φ
|
diminui o total de créditos por φ, i.e., µ←µ-φ
|
Conforme
representado na Fig. 2a, descreve-se aqui uma forma de estimar o tempo de
reconfiguração. Se o recurso afetado pela falha ficar indisponível por um longo
período de tempo, o OpH prevê o tempo de recuperação (tr), para poder revisar sua agenda,
verificar as ordens planejadas durante o tempo de recuperação e, então cancelar
a alocação atual destas ordens, notificando o StH. Para isto, o OpH estima dois
parâmetros distintos: (i) te que define o tempo em que as ordens precisam retornar para o StH,
e (ii) tc que é o tempo para verificar se a falha
foi recuperada, re-estimar e re-aplicar os parâmetros do tempo se a falha não
foi recuperada como previsto. Este tempo é menor que te. Uma possível maneira para calcular estes
dois valores é determinar o tempo de recuperação (tr) despendido em tratamento de falhas
anteriores e assumir 50% para tc e 90% para te.
Transcorrido
tc , se a falha não está recuperada, é
necessário re-estimar os parâmetros de tempo e cancelar as estratégias que
estão planejadas para o novo intervalo de tempo. Obtém-se o novo tempo estimado
somando tc a te e verificando novamente a recuperação em tc.
O OpH remove a ordem planejada que seria executada dentro do
novo intervalo de tempo (tc + te) de sua agenda local, enviando mensagens para os StHs responsáveis
por cada uma destas ordens.
Durante o
tempo que o recurso está indisponível, o OpH somente recebe novos comandos se
estes puderem ser executados fora do intervalo de tempo estimado para
recuperação. Após a execução da ação de recuperação, o OpH armazena as
informações relevantes sobre a falha, principalmente o tempo de recuperação e a
solução utilizada para recuperá-la. O registro destas informações permite criar
novo conhecimento que suportará futuras reações às falhas.
2.1.3.
Fator de autonomia
A autonomia
de cada OpH é neste caso associado a um “fator de autonomia”, i.e., uma
variável discreta {baixo, alto}.
Inicialmente, o OpH tem um fator de autonomia {baixo}, que permite a sua coordenação pelo SuH, executando quando
disponível, os planos que o SuH indica. Quando uma falha ocorre e esta é
identificada, inicia-se o tratamento da falha. Esta função adapta o
comportamento dos holons na presença de falha. As entradas para esta função
são: (i) o valor da variável do fator de autonomia (α); (ii) o tempo de
restabelecimento (τ) que é o tempo
estimado necessário para a recuperação da falha; e (iii) o parâmetro do tipo de
falha (ρ) que indica a ocorrência de uma determinada falha.
No caso de
um fator de autonomia {baixo}, a ocorrência de uma falha representada por {ativa},
gera a mudança do fator de autonomia para {alto} e a seleção de um
comportamento adequado para o tratamento da falha. Depois de transcorrido τ, se o fator de autonomia é {alto} e a
falha ainda está {ativa}, isto significa que o sistema ainda não foi recuperado
e, e τ
é re-estimado. Caso a falha e
a situação causada pela mesma já foi resolvida, situação indicada por {inativa},
o holon pode retornar a estrutura anterior à ocorrência da falha, mudando o
fator de autonomia para {baixo}.
Quando a falha
é removida, ou seja, quando a sua causa e suas conseqüências são sanadas, cada OpH
reduz novamente seu fator de autonomia e retorna a estrutura de controle
hierárquica, entrando novamente no modo estacionário.
2.2.
AFTCS no AHCS
Para
considerar a ocorrência de falhas, as funções de AFTCS no AHCS são divididas em
quatro fases (Fig. 2b) e estão presentes em cada holon independente do tipo.
A fase de
“estimação” envolve: (i) a detecção de sintomas, que podem identificar a
existência de falhas através da supervisão dos processos e (ii) o isolamento da
falha que é baseado em um modelo contendo características (tipo, dados
estatísticos, etc.) que asseguram a identificação da falha. Quando os sintomas
detectados não permitem qualquer conclusão, o sistema deve ser programado para
identificar o tipo de falha em casos similares ou requisitar intervenção
externa. A fase de “planejamento” decide a ação de reconfiguração baseada em
prioridades pré-definidas como, por exemplo: menor queda de desempenho, menor
tempo de recuperação, etc. A partir de dados históricos, é possível medir a
significância estatística de cada tipo de falha em termos como a taxa de
freqüência, o tempo de recuperação e o custo operacional. A fase de “execução”
envolve o envio de comandos para execução do plano de ação selecionado. A
última fase é a de “aprendizagem” que envolve a armazenagem dos dados
relevantes em relação ao plano executado.
Portanto,
pode-se afirmar que AHCS atua de acordo com as seguintes regras de AFTCS: se
<sintomas> então <seleciona falha>; se <falha selecionada> então <seleciona ação>; se <ação selecionada> então <ativa reconfiguração>; e se <reconfiguração executada> então <armazena dados relevantes>.
Figura
2. Estimação do tempo de reconfiguração e (b) fases de AFTCS no AHCS.
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